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Há vida no Mar Morto

Deborah Vilhagra Faria

Quando falamos em Mar Morto, o primeiro pensamento que nos vem é que não há nenhuma forma de vida presente nesse ambiente. Mas será que isso é verdade mesmo?

mar morto1O Mar Morto se localiza na divisa de Israel com a Jordânia e está a 396 metros abaixo do nível do mar, depressão mais profunda da Terra. A lama presente em torno desse mar, na verdade um lago, tem propriedades terapêuticas e é utilizada para diversos tratamentos, desde artrite, dores musculares e o estresse como também para tratamentos de pele, sendo muito explorada pela indústria de cosméticos. Suas águas possuem um nível de salinidade altíssimo faz com que sua densidade seja maior do que a do corpo humano, levando seus turistas a flutuarem sobre as águas. Para efeito de comparação, os oceanos, em geral, possuem em média a concentração salina de 35 g/L sendo que 80% é composto por Cloreto de Sódio (NaCl) e os 20% restantes por Sulfato de Cálcio (CaSO4), Sulfato de Magnésio (MgSO4) e Cloreto de Magnésio (MgCl2). Por sua vez, o Mar Morto, possui concentração salina de 340 g/L, cerca de 10 vezes mais! Sua composição mineral é: 67% de cloro, 17% de magnésio, 10% de sódio e 0,2% de enxofre, sendo este último o responsável pelo forte odor.

A essas condições, não é possível encontrar nenhuma espécie de vida, pois por causa da alta concentração de sais, o efeito da osmose faz com que os organismos expostos sejam extremamente desidratados, visto que o meio externo é mais concentrado que o meio interno. Porém um mar morto2microrganismo em particular consegue suportar esse ambiente: a bactéria Haloarcula marismortui. Esse microrganismo, além de suportar condições extremas, também possui uma rota metabólica diferente dos demais, que utilizam o ciclo do glioxilato e a via da etilmalonil-CoA como rota para, a partir de acetil-CoA, transformar compostos necessários para a produção de glicose, fonte de energia. A H. marismortui utiliza o ciclo do metil-aspartato, sendo que essa via metabólica é mais extensa e oferece vantagens para que ela sobreviva à salinidade extrema, pois um dos intermediários do ciclo atua limitando os efeitos da osmose.

Portanto, o estudo desses tipos de microrganismos tem uma grande importância, pois através do uso de bactérias que sobrevivem a condições extremas é possível desenvolver diversas aplicações em benefício da sociedade, sendo uma delas o tratamento biológico de efluentes.

 

 

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