PET-QUÍMICA Unesp Araraquara

Arquivo para agosto, 2014

Anistia às Anestesias

Paulo Lopes Barsanelli

Nós todos tememos a tão comentada anestesia, alguns a temem mais que o próprio procedimento cirúrgico que a procede. Mas se olharmos para o passado, veremos que o que deveríamos realmente temer é a sua ausência ou os métodos anestésicos que antecederam os atuais, as hodiernamente injustiçadas seringas.

O desconhecimento de métodos analgésicos (que inibem a sensação de dor) pressionavam os médicos a agirem com extrema agilidade sobre os pacientes, que eram devidamente imobilizados, para que a extrema dor não perdurasse. Agrega-se nesta situação o fato de que as cirurgias se limitavam a pequenas operações superficiais e amputações de membros, um procedimento mais complicado era sinônimo de morte. A evolução do enfermo pós-operado era geralmente entregue à “vontade divina”. Os primeiros hospitais possuíam as famosas cúpulas que se encontravam isoladas no topo de seus prédios, onde os gritos provindos da cirurgia se limitavam.

O termo “anestesia” (do grego an, privado de + aísthesis, sensação) foi sugerido pelo médico e poeta norte-americano Oliver Wendel Holmes (1841-1935), porém já foi empregado pelo médico e cirurgião militar grego Dioscórides (40-90) no século I d.C. com o sentido de insensibilidade dolorosa. Atualmente o termo que define esta área na medicina é “anestesiologia” e foi criado em 1902.

Os primeiros métodos analgésicos consistiam:

  • na compressão da carótida (artéria que leva sangue ao cérebro) do paciente, pelos assírios por volta de 1000 a.C., até que ele ficasse inconsciente;
  • na mastigação de folhas de coca utilizada pelos Incas na América do Sul;
  • na milenar acupuntura da China;
  • na esponja saporífera, utilizada pelo médico grego Hipócrates (460 a.C. – 377 a.C.) no século IV a.C. (composta por ópio, sucos de meimendro, amoras amargas, eufórbia, mandrágora e hera, sementes de alface, bardana e cicuta que eram misturados num recipiente de cobre contendo uma esponja e então a mistura era submetida à fervura até evaporação total), que era posicionada sob as narinas dos pacientes que adormeciam e eram despertados depois com outra esponja embebida em vinagre;
  • na concussão cerebral, utilizada na Europa medieval, a qual uma tigela de madeira era posicionada sobre a cabeça do paciente e em seguida era golpeada evitando forte impacto no crânio, mas levando a “vítima” à inconsciência;
  • no congelamento por gelo ou neve das partes do corpo a serem operadas, utilizadas no século XVI;
  • na hipnose por meio do “magnetismo animal” utilizado pelo médico austríaco Friedrich Mesmer (1733-1815) no século XVIII;
  • na embriaguez por bebidas alcoólicas (principalmente vinho);
  • e no emprego de magias e orações sobretudo durante a Idade Média.

O início de um grande passo para a mudança e melhoria na história das anestesias foi dado pelo químico inglês, Joseph Priestley (1733-1804), ao descobrir o óxido nitroso (N2O) em 1773, mas que não viu aí nenhuma utilização como anestésico. Priestley também isolou o gás oxigênio que chamou de ar desflogisticado baseado na teoria do flogístico (criada pelo cientista alemão Georg Ernst Stahl (1660-1734) que dizia que a combustão ocorria com certos materiais porque estes possuíam um “elemento” ou um princípio comum inflamável que era liberado no momento da queima).

O inglês Humprhy Davy (1778-1829), então aprendiz de farmácia, dá, em 1800, sua contribuição neste grande passo ao estudar os efeitos do óxido nitroso. Davy inalou o gás e experimentou de uma sensação de relaxamento e vontade involuntária de sorrir (este é o famoso “gás hilariante”, batizado por ele). Certa vez em que estava com dor de dente percebeu que ao inalar tal gás, a sensação de dor fora interrompida. Deduziu então que o óxido nitroso poderia ser indicado para inibir outras fontes de dores e sugeriu em uma de suas publicações intitulada de “Vapores Medicinais”, seu uso em cirurgias.

Michael Faraday (1791-1867), físico inglês, descreveu, em 1818, as propriedades analgésicas do éter etílico (ou éter sulfúrico: CH3CH2OCH2CH3) como sendo semelhantes às do óxido nitroso.

Em 1823, o médico e cirurgião inglês, Henry Hill Hickman (1800-1830) defendia que a via inalatória era caminho certo para obter a anestesia em procedimentos cirúrgicos. Hickman testava em cães a ação anestésica do gás carbônico e observava que os animais não apresentavam sinais de dores em pequenas operações às quais eram submetidos. A Royal Society e a Associação Médica de Londres não o autorizaram para que continuasse suas experiências em seres humanos. Hickman chegou perto de ser o grande descobridor da anestesia cirúrgica, talvez o fosse se tivesse feito uso de gases como o éter etílico ou mesmo o óxido nitroso.

No entanto, estes dois últimos gases ganharam notoriedade não na área da medicina, mas na do entretenimento, na qual eram utilizados em exibições circenses, festas e outros eventos públicos, onde os expectadores eram convidados a subirem ao palco e inalarem o gás para que experimentassem de seus efeitos que os induziam a rirem e dançarem para a alegria de todos os presentes.

Crawford W. Long à direita da foto, simula uma intervenção cirúrgica sob anestesia pelo éter.

Crawford W. Long à direita da foto, simula uma intervenção cirúrgica sob anestesia pelo éter.

Tais eventos (conhecidos então como festas do gás do riso) chegaram, em 1841, à pequena cidade de Jefferson (Atlanta, EUA) de 500 habitantes, onde o recém-formado em medicina pela Universidade da Pensilvânia (Filadélfia, EUA), Crawford Williamson Long, então com 26 anos, enxergou em toda essa diversão outra finalidade para a utilização desses gases. Utilizando do éter etílico ele descreveu: “Inalei inúmeras vezes o éter por causa de suas propriedades inebriantes e observei no meu corpo contusões e equimoses arroxeadas, provindas de quedas involuntárias durante as inalações da droga e notei que meus amigos debatiam-se tão fortemente que deveriam sentir alguma dor, mas que, inquiridos depois, responderam-me que nada haviam sentido”. Long deduziu então que a inalação do vapor do éter etílico poderia lhe trazer o mesmo resultado durante operações cirúrgicas.

No dia 30 de março de 1842 veio-lhe tal constatação quando, diante várias testemunhas, Long extirpou dois pequenos tumores da região superior do pescoço de seu paciente (um amigo, o estudante James M. Venable). Este procedimento ocorreu após Long usar do éter como anestésico geral colocando um lenço embebido deste sob o nariz de Venable até que ele gradualmente adormecesse e confirmando sua insensibilidade cutânea com uma agulha. Após recobrar a consciência, seu amigo não acreditou até que lhe fosse mostrado o cisto extraído.

Infelizmente, como outros pioneiros da ciência, Long sofreu interferência de religiosos radicais e também dos habitantes de Jefferson que acreditavam que seu novo método acabaria por matar algum de seus pacientes e então desistiu de aplicar em seus pacientes a promissora novidade. Entretanto, não deixou de crer em sua descoberta e administrou o éter como analgésico obstétrico à sua esposa no parto de seu segundo filho (em 1845) e nos posteriores.

Outra infelicidade que acometeu Long foi o fato de não ter publicado nada sobre sua descoberta, nada que provasse seu pioneirismo na anestesia geral.

Representação de uma das extrações dentárias realizada por Horace Wells.

Representação de uma das extrações dentárias realizada por Horace Wells.

Perto de se consolidar este grande passo da medicina que é a descoberta da anestesia, surge na história, Horace Wells (1815-1848), dentista na cidade de Hartford, que assim como Long, descobriu as propriedades do óxido nitroso através de uma apresentação pública. Então em 11 de dezembro de 1844, Wells, teve um de seus próprios dentes extraídos por um amigo após ter inalado o gás. Na ocasião não sentiu nenhuma dor.

Após realizar 10 outras indolores extrações dentárias em seus clientes, Wells contata um ex-aluno seu, William Thomas Green Morton (1819-1868), então estudante na Faculdade de Medicina de Harvard em Boston, e dirigiu-se até ele. E no Massachusetts General Hospital, diante de seu ex-aluno, professores e outros estudantes, Wells fracassa (talvez por administrar dose insuficiente do anestésico) ao tentar extrair sem dor, um dente de um estudante que se voluntariou. Após os gritos de dor do estudante, o dentista foi expulso como impostor.

De volta à sua cidade, continuou a utilizar de seu método, porém, após um paciente sofrer de parada respiratória e quase morrer, Wells decidiu abandonar a odontologia. Em 1847, publicou “A História da Descoberta da Aplicação do Óxido Nitroso, do Éter e de outros Gases em Cirurgia”, viciou-se em clorofórmio e em 1848 suicidou-se.

Em 1846, o primeiro grande passo na história da anestesia a caminho de como a conhecemos hoje foi concluído, justamente, pelo ex-aluno de Horace Wells, William Thomas Green Morton, e ironicamente no mesmo palco em que este último fracassara, no anfiteatro Bullfinch do Massachusetts General Hospital.

Morton, em seu segundo ano de medicina, insistiu nos estudos de Horace Wells e com a recomendação de seu ex-professor de química, o médico americano Charles Thomas Jackson (1805-1880), substituiu o óxido nitroso pelo éter. Realizou vários testes em cães e por último, em 30 de setembro de 1846, extraiu sem dor um dente de um comerciante da cidade de Boston.

Quadro do pintor Roberto Hinckleu, de 1882, reproduzindo a cena da operação realizada com anestesia geral pelo éter em 16/10/1846.

Quadro do pintor Roberto Hinckleu, de 1882, reproduzindo a cena da operação realizada com anestesia geral pelo éter em 16/10/1846.

Então no dia 16 de outubro de 1846, o cirurgião Dr. John Collins Warren (1778-1856) juntamente com o paciente Edward Gilbert Abott (um jovem impressor), portador de um tumor vascular no lado esquerdo do pescoço aguardavam a chegada de Morton que apareceu com um inalador de sua invenção que consistia num globo de vidro que continha o líquido volátil, anexado a uma cânula que direcionava os vapores à boca do paciente. Morton denominava seu anestésico de “Letheon” (do grego lethe, rio do esquecimento), que revelou pouco depois ser o já conhecido éter etílico. O paciente ficou inconsciente poucos minutos após sua aspiração e, seu tumor foi extirpado, a hemostasia (contenção de hemorragia) realizada e nenhum sinal de dor foi demonstrado. O fato de não necessitar de imobilização do paciente em semelhante procedimento cirúrgico foi surpreendente e após tal sucesso, Dr. Warren voltou-se à audiência estonteada e disse a seguinte frase “Cavalheiros, isto não é uma fraude.”.

Tal feito foi comunicado à Revista de Medicina e Cirurgia de Boston em 11 de novembro de 1846, e assim a notícia chegou à Inglaterra, a seguir à França e depois ao resto da Europa.

No Brasil, a primeira anestesia geral pelo éter foi realizada pelo Dr. Roberto Jorge Haddock Lobo (1817-1869), nascido em Portugal, em um estudante da Escola de Medicina do Rio de Janeiro, Francisco d’Assis Paes Leme, com intenção apenas experimental, em 25 de maio de 1847 no Hospital Militar do Rio de Janeiro.

Ao óxido nitroso e ao éter seguiu-se o clorofórmio, utilizado pela primeira vez em 1847, no trabalho de parto, pelo médico escocês James Young Simpson (1811-1870). Em 1930 foi introduzido o ciclopropano e em 1956, o halotano.

Apesar de que nessa época já eram conhecidos relatos de injeção de drogas e sangue por via venosa em animais, a agulha oca foi inventada somente em 1844 pelo médico irlandês Francis Rynd (1811-1861). Em 1853, o médico francês Charles Pravaz (1791-1853) desenvolveu a primeira seringa de metal e no mesmo ano, outro médico, o escocês Alexander Wood (1817-1884), realizou a primeira injeção intravenosa (de morfina) em um paciente.

A base das drogas anestésicas usadas hoje em dia partiu do hexobarbital (derivado do ácido barbitúrico) que foi introduzido em 1903 e principalmente do tiopental utilizado em 1934 que foi quem popularizou a indução anestésica intravenosa. Sucederam e sobrepuseram estas duas substâncias o propofol (1989), a procaína (1905), a dibucaína (1930, a tetracaína (1932), a lidocaína (1947), a cloroprocaína (1955), a mepivacaína (1957), a prilocaína (1960), a bupivacaína (1963), a ropivacaína e a levobupivacaína.

Referências:

http://super.abril.com.br/ciencia/eter-gas-hilariante-dois-dentistas-incrivel-historia-anestesia-444900.shtml

Clique para acessar o rezende-9788561673635-11.pdf

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942006000300010

Clique para acessar o hahuc.pdf

Clique para acessar o v52n6a15.pdf

http://www.brasilescola.com/quimica/teoria-flogistico.htm

http://www.brasilescola.com/quimica/descoberta-oxigenio.htm

Primavera Silenciosa: do retrospecto da autora à resenha da obra

Primavera Silenciosa: do retrospecto da autora à resenha da obra

Bruna Larissa Gama Cavalcante

 

Com o dom da palavra e da eloquência, Rachel Carson revolucionou a história ambiental do planeta, principalmente dos Estados Unidos, país onde nasceu e escreveu o último dos seus livros e também o mais polêmico, “Primavera Silenciosa” (Silent Spring).

 

A autora

Rachel Carson nasceu em Springdale, Pensilvânia, em 1907 e, sob a influência materna, acostumou-se a observar a natureza e seus encantos desde a infância. Formada em biologia na Faculdade da Pensilvânia para mulheres, R.C. [1] apaixonou-se pelo mar quando teve a oportunidade de estudar no Laboratório Biológico Marinho de Woods Hole, tornando-se, assim, uma bióloga marinha; mas que pRachel Carsonassou a escrever artigos para um jornal dos Estados Unidos, o Baltimore Sun, devido à falta de oportunidade na área das ciências para as mulheres, na década de 1930.

Nos anos seguintes, R.C. adquiriu experiência na escrita e juntou o que sabia fazer de melhor, escrever e ser bióloga marinha; assim, publicou três livros: “Beira-mar”, “O mar que nos cerca” e “Sob o mar-vento”, todos com o enfoque na sua especialidade, o mar. Estes livros a consagraram como uma das maiores escritoras da área das ciências nos Estados Unidos, pois a sua linguagem concisa e fácil de entender conquistou tanto os cientistas quanto os leigos que se interessavam pelo assunto.

Porém, a partir de janeiro de 1958, de alguma forma, tudo mudaria na sua vida. Nesta época, R.C. recebeu uma carta de sua amiga jornalista Olga Owens Huckins relatando a amarga experiência de ver seu quintal repleto de pássaros mortos devido a pulverizações aéreas de DDT [2]. E foi assim que despontou em R.C. a necessidade de escrever um livro sobre o que a afligia já há algum tempo, o uso indiscriminado de agrotóxicos em todo tipo de ambiente, seja este natural ou artificial.

A obra

Primavera Silenciosa surgiu a partir de extensas pesquisas durante quatro anos, contando com a colaboração de cientistas de diversos países. Lançado em setembro de 1962, provocou uma verdadeira reviravolta nos movimentos ambientalistas nos Estados Unidos e uma ira imensa por parte das indústrias químicas produtoras de inseticidas, herbicidas e fungicidas e os cientistas comprometidos com sua produção e pesquisa.

Este livro pode ser considerado uma compilação (ou metaforicamente, uma verdadeira “colcha de retalhos” muito bem concatenados) de inúmeros fatos históricos e pesquisas e seus resultados sobre as substâncias usadas como inseticidas e herbicidas nos Estados Unidos e em outras partes do gloLivro Primavera Silenciosabo a partir da década de 1940, ao que a autora chama de “Era dos venenos”. Além de registros, dentro da própria prosa, há diversas notas de opinião da autora, recheadas de ironias, desaprovações e indagações ao leitor.

Com uma metodologia alarmista e persuasiva, o livro começa com um relato de uma cidade harmoniosa, que ficou infestada por uma praga e que, de repente, uma série de acontecimentos cruéis com as pessoas, animais e vegetações ocorreu. Isto aconteceu porque houve a pulverização de veneno contra a praga que atingira a cidade. Ao final, R.C. diz que aquela cidade não é real, entretanto, cada acontecimento ali relatado ocorreu em alguma cidade dos Estados Unidos; enfim, o primeiro capítulo é a junção de todos os relatos descritos nos capítulos subsequentes.

À medida que se avança na leitura, é notável que o livro segue uma lógica. A preocupação que a autora tem de situar o leitor no tempo e no espaço e de explicar-lhe os termos das ciências e as substâncias químicas fica evidente logo nos primeiros capítulos. Desse modo, a cada capítulo lido, o leitor leva uma bagagem para compreender o capítulo seguinte. A exemplo, o terceiro capítulo, “Elixires da morte”, é totalmente reservado para descrever as substâncias químicas presentes em inseticidas os quais o livro tratará logo adiante. No capítulo, são apresentadas fórmulas estruturais de algumas substâncias, a história de algumas delas e suas propriedades. Do contrário, não faria sentido relatar a gravidade da situação se não houvesse uma explicação prévia dos efeitos dessas substâncias no ambiente e sua composição química.

Nos próximos capítulos, há inúmeros casos de como a pulverização de substâncias tóxicas afetaram negativamente diversos setores da natureza na tentativa de controlar os insetos e as plantas julgados daninhos. Esses setores são: as águas de rios e mares, os solos, a vegetação, a fauna silvestre e de criação, as águas subterrâneas e os seres humanos. Em todos esses relatos, R.C. deixa claro que não é expressamente contra esses métodos de controle de “pragas”, mas que achava completamente errado que fossem aplicados inseticidas e herbicidas sem saber ao certo o seu efeito sobre a natureza.

Primavera Silenciosa

Segundo o que diz a autora, quando eram feitas pesquisas para saber quais os efeitos das substâncias sobre os animais, elas eram feitas sob condições completamente artificiais e isoladas, em ambientes laboratoriais, muito diferentes dos ambientes encontrados em florestas e em fazendas. Todavia, movidas pelo capitalismo, as indústrias químicas investiam cada vez mais em pesquisas para sintetizar novas substâncias para matar os insetos e as plantas indesejados e não contavam que prejudicariam os setores da natureza já descritos de forma tão grave como traçado pela autora.

Apesar de escrito entre o final da década de 1950 e o início da de 1960, o livro Silent Spring permanece com uma contemporaneidade admirável, que se encaixa nos tempos modernos do século XXI de uma forma quase perfeita. “Quase” perfeita, porque o contexto atual é completamente distinto do contexto de há mais de 50 anos, como exemplo, há as constantes referências à radiação. Na época em que foi escrito, havia menos de 20 anos que a Segunda Guerra Mundial acabara, ainda estava fresca na memória das pessoas a destruição causada pela bomba nuclear lançada em Hiroshima e em Nagasaki e os efeitos da radiação. Além disso, os Estados Unidos passavam pela Guerra Fria e, desse modo, havia uma tensão política no país que levava à iminente ideia de ataques nucleares. Com essa situação, R.C. conseguia fazer analogias aos efeitos maléficos das substâncias tóxicas utilizadas e chamar a atenção de cientistas e interessados no assunto.

Ao final, são apresentados alguns meios naturais, alternativos e benéficos de combate de insetos, como o predatismo e o uso de quimioesterilizantes. Assim termina a obra que mudou o rumo da história, que fez surgir no EUA, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e que levou à proibição do uso de DDT no EUA em 1972.

Por sua coragem, determinação e preocupação com o futuro, R.C. conquistou muitas premiações e honrarias por ter escrito a obra mais impactante no mundo científico em sua época. Prematuramente, na primavera de 1954, aos 56 anos, um câncer silenciou para sempre a mãe do ambientalismo moderno.

[1] – R.C.: Rachel Carson

[2] – DDT: dicloro-difenil-tricloroetano

Referências Bibliográficas:

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/livro-primavera-silenciosa-rachel-carson-ed-gaia-700826.shtml

http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=42&secao=536&mat=565

http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/296/rachel-carson-ciencia-e-coragem

http://www.editoragaia.com.br/autores/busca-de-autores/?AutorID=3556

Torres, J. P. M.; Semente da ética ambiental. Ciência Hoje, vol. 46, n.º 275, out. 2010. Resenha, p. 76-77.

Carson, Rachel; Primavera Silenciosa [traduzido por Claudia Sant’Anna Martins]. 1.ed. São Paulo: Gaia, 2010.

E se o que sobra do seu café pudesse ser transformado em combustível?

E se o que sobra do seu café pudesse ser transformado em combustível?

Guilherme  Pires de Campos

No Brasil, como em outros países, o hábito de tomar café tem muitas vezes um caráter “ritualístico”. Uns tomam para relaxar, outros para se manter acordados e ativos, alguns para fazer uma pausa no trabalho, ente outro motivos. cafe1Como consequência disso, o Brasil consumiu cerca de 20,08 milhões de sacas de 60 kg de café no ano de 2013, o que resulta num consumo de 4,87 kg de café por habitante. Depois de feito, o que sobre do café (borra) até então era descartado por não ser mais útil.

Pesquisas recentes feitas pela USP mostram que a borra do café pode ser empregada para a produção de combustível, o qual pode produzir biodiesel suficiente para abastecer pequenas comunidades agrícolas.

A matéria prima utilizada na produção desse biodiesel são os óleos essenciais presentes na borra do café, a qual possuem de 11 a 20% de óleo. Segundo a pesquisa feita pela universidade, a partir de um quilo de borra de café é possível extrair até 100 mililitros de óleo, o que geraria cerca de 12 mililitros de biodiesel.

A produção desse biodiesel se dá pela retirada da umidade da borra de café e extração com etanol para retirar os óleos essenciais. Em seguida, o óleo extraído é colocado em contato com um catalisador alcalino, o qual é responsável pela transesterificação e se obtém o biodiesel.

cafe2    De forma mais detalhada, o pó de café é filtrado com água a 90°C (processo comum de preparo do café). Em seguida, a borra é transferida para um recipiente (vidro de relógio) e colocada para secar. Tendo-se retirado toda a umidade, preparam-se soluções da borra com etanol na proporção de 1:6, sob agitação lenta e constante por 2h. Em seguida a solução é passada para um funil de vidro, onde será possível observar a formação de duas fases (borra do café + óleo extraídos no etanol).

A transesterificação pode ser feita com dois catalisadores diferentes:

– Metóxido de sódio(MeONa): apresenta melhores resultados e não permite a formação de hidroxilas no processo, as quais realizam reação de saponificação com o óleo presente no meio reacional.

– Ácido sulfúrico (H2SO4): melhor catalisador ácido pelos testes realizados na pesquisa.

Com base na discussão feita pela pesquisadora, os resultados são satisfatórios quanto a obtenção do biodiesel. E a reação de transesterificação apresenta bons rendimentos em temperatura ambiente, tornando o processo mais simples e vantajoso economicamente.

Assim, uma pequena comunidade estaria possibilitada de produzir combustível para utilização em máquinas e equipamentos, reduzindo os gastos e utilizando uma matéria prima que é descartada diariamente.

 

 

Bibliografia

file:///C:/Users/Guilherme/Downloads/Denise_Dissertacao.pdf

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=biodiesel-borra-cafe&id=010115110216#.U8K_QPniZMh

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2014/02/consumo-de-cafe-no-brasil-registra-1-queda-em-10-anos-aponta-abic.html

 

Tatuagens sob o ponto de vista químico

 Tatuagens sob o ponto de vista químico

Stéphani Capeloci Visciglia

 

tatuagem1A Tabela Periódica dos elementos químicos é um arranjo que permite não só verificar as características dos elementos, mas também fazer previsões de como esses se comportam frente às reações. Os elementos da Família B da tabela são denominados Elementos de transição e são objetos de nosso estudo sobre as tatuagens.

Os elementos de transição possuem a propriedade de formar compostos coloridos, devido à presença de orbitais d para as transições eletrônicas que absorvem radiações na região visível do espectro. Também podem apresentar cor por causa da existência de orbitais parcialmente preenchidos, que permitem transições eletrônicas, responsáveis pela emissão luminosa. Os compostos dos elementos que apresentam todos os orbitais preenchidos (Zn, Cd e Hg) normalmente não são coloridos.

As tatuagens já existem há alguns anos, mas seu uso ultimamente se intensificou. Embora atualmente ainda ocorra discriminação, as tatuagens são vistas com naturalidade, principalmente pelo público jovem.

As tintas para tatuagem são compostas de pigmentos insolúveis em água veiculados com dióxido de titânio que são injetados na pele pelas agulhas. Por serem insolúveis, estes componentes permanecem em estado sólido na derme – camada profunda da pele – não sendo removidos pelos nossos sistemas de defesa. Originalmente, estes pigmentos consistiam de misturas de carvão – no caso da tinta preta – ou de sais inorgânicos principalmente de metais pesados como mercúrio, prata e chumbo – no caso das coloridas. A descoberta da toxicidade destes compostos fez a indústria de tintas buscar pigmentos orgânicos que pudessem ser utilizados com mesmo resultado. Embora não haja estudos completos sobre o toxicidade desses pigmentos, a ANVISA deu um prazo de até fevereiro de 2010 para que a indústrias façam o registro de suas tintas.

Abaixo alguns dos pigmentos orgânicos utilizados nas tintas modernas:

tatuagem2

A partir do superior esquerdo, em sentido horário, pigmentos azul, vermelho, verde e amarelo.

A localização do pigmento depende da idade da tatuagem. Durante os primeiros 15 dias após o procedimento, os pigmentos se concentram na interface derme-epiderme, abaixo da camada de queratinização/cicatrização. Parte do pigmento é perdido nestes processos. A recomendação de não arrancar a famosa casquinha existe, pois a retirada da mesma pode remover fisicamente o pigmento, dilacerando as camadas da derme abaixo da cicatrização.   Quando a tatuagem sara, o que leva cerca de quinze dias, a maior parte do pigmento se concentra nas várias camadas da derme.

Abaixo um corte histológico mostrando a localização do pigmento vermelho na derme:

tatuagem3

Os pigmentos insolúveis permanecem parte no interstício, nome dado ao meio externo às células, recobrindo os fibroblastos ou, ainda, endocitados por macrófagos e encapsulados em vacúolos intracelulares. As partículas de pigmento que permanecem na derme causam diminuição da produção de colágeno, o que pode estar associado a diversas complicações dermatológicas potencialmente causadas pela tatuagem. Além de encapsular as partículas de pigmento, os macrófagos têm a capacidade de metabolizá-los através do sistema citocromo P450, responsável pelo metabolismo dos chamados xeno-compostos, (substâncias estranhas e potencialmente danosas ao organismo), transformando-os em substâncias solúveis que podem ser eliminadas via circulação linfática. Portanto, quanto maior a proporção de pigmento endocitado por macrófagos, maior será a perda de coloração por metabolização do pigmento, já que parte deste será eliminado.

A escarificação da pele pela agulha, gera uma intensa reação inflamatória local, com repercussões sistêmicas, que leva ao recrutamento de macrófagos à derme sendo tatuada. Quanto mais longa a duração da seção de tatuagem, maior a reação inflamatória e mais macrófagos serão recrutados para o local. Daí a afirmação dos tatuadores de que a pele se torna “resistente” e ainda que “cospe” a tinta, deixando partes descoloridas no desenho.
Existem dois tipos de tatuagem:

Temporárias: são conhecidas como tatuagens de Hena, este nome provém da planta da qual é retirada a pigmentação: a Henna lausonia inermes (princípio ativo do corante é lausona (2-hidroxi-1,4-naftoquinona)1). Essa planta é originária da Índia e países do Oriente Médio, sua coloração natural é marrom ou ferrugem e não possui efeito tóxico. O risco está na adição de carbono e de substâncias contendo chumbo e mercúrio para obtenção da cor preta.

Definitivas: é preciso pensar muito antes de optar por este tipo de tatuagem, que como o próprio nome indica, é definitiva. Só existe uma forma de removê-la, que é através de laser: um processo doloroso e o resultado final não é muito satisfatório, pois no lugar da tatuagem fica uma cicatriz.

A técnica utilizada nas tatuagens permanentes consiste em introduzir na derme com o auxílio de agulhas, pigmentos que ficam retidos nas células da pele. As cores presentes nas tatuagens são provenientes de alguns produtos químicos. São sais de alguns elementos de transição.

tatuagem4

Os pigmentos mais comuns e suas cores específicas estão relacionados abaixo:

Pigmento                                                         Cor

Sulfeto de Mercúrio ………………………………………………..     Preto
Carbono (carvão)     ……………………………………………….     Preto
Sais de cádmio        ……………………………………………….     Amarelo ou vermelho
Sais de crômio         ……………………………………………….     Verde
Sais de ferro            …………………………………………………   Castanho, rosa e amarelo
Óxido de Titânio     …………………………………………………     Branco
Sais de cobalto     …………………………………………………..     Azul

A intoxicação por metais pesados ocorre quando eles são absorvidos pelo corpo humano e passam a substituir alguns metais necessários para nossas funções biológicas. É importante lembrar que a intoxicação se dá pela ingestão, ao longo da vida. Os metais pesados se depositam nos tecidos ósseos e gordurosos, não sendo eliminados com o passar do tempo.

Alguns metais pesados e seus efeitos:

Alumínio– Anemia por deficiência de ferro; intoxicação crônica.
Cádmio– Câncer de pulmões e próstata; lesão nos rins.
Chumbo– Saturnismo (cólicas abdominais, tremores, fraqueza muscular, lesão renal e cerebral).
Mercúrio– Intoxicação do sistema nervoso central.
Cobalto– Fibrose pulmonar (endurecimento do pulmão) que pode levar à morte.
Cromo– Asma (bronquite); câncer.

Titânio- câncer do trato respiratório.

A cada dia, temos técnicas mais aperfeiçoadas para a composição das tatuagens e imagens mais trabalhadas e coloridas. Todas as cores utilizadas são provenientes dos metais de transição, chamados metais pesados. Porém, apesar das concentrações dos metais pesados existentes serem muito baixas, não causando danos imediatos à saúde, é bom lembrar que os metais se acumulam ao longo da vida.

Referencias

http://www.brasilescola.com/quimica/tatuagens-sob-ponto-vista-quimico.htm

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/7259210047457ee38aacde3fbc4c6735/Tatuaem+e+Piercing.pdf?MOD=AJPERES

http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pesquisa/pibic/publicacoes/2011/pdf/qui/bianca_ligramante.pdf