PET-QUÍMICA Unesp Araraquara

Arquivo para junho, 2014

Sir Humphry Davy

Sir Humphry Davy

Leonardo Albino

Sir Humphry Davy foi um dos grandes químicos do inicio do século XIX, uma época em que a química estava nascendo como ciência. Com suas ideias liberais e românticas, Davy conseguiu crescer cientificamente e isolar cerca de seis elementos utilizando conceitos de eletroquímica. A seguir veremos um resumo da vida deste grande químico.

Nascido em Penzance, na Cornualha ao sudoeste da Inglaterra, no dia 17 de dezembro de 1778, filho de um carpinteiro e uma dona de casa, Humphry Davy foi o primeiro de cinco filhos. Humhpry cresceu numa época de transição, o Iluminismo estava em seu auge, uma nova filosofia que pregava a busca da razão. Juntamente começava a surgir o Romantismo, um movimento artístico que glorificava os sentimentos humanos. Talvez nenhum outro cientista da época tenha unido tão bem essas suas filosofias. Apaixonado pela química desde pequeno foi convidado pelo químico e físico inglês Dr. Thomas Beddoes para trabalhar na sua recém-formada instituição de pesquisa The Pneumatic Institution, em Bristol, que tinha a finalidade de tratar de doenças respiratórias, principalmente a tuberculose, com o uso de gases em 1798. Lá Davy começou sua carreira como químico.

Sendo um exímio pintor e poeta, Davy também chamou atenção dos pioneiros do Movimento Literário Romancista Britânico, conhecidos como Lake Poets: William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge e Robert Southey. Humphry Davy e os poetas românticos compartilhavam interesse pela poesia, no poder da natureza e numa certa substância que alterava o humor. Uma das substâncias estudadas por Davy era o Óxido Nitroso. Quando inalado produz uma suave depressão numa região do cérebro relacionada aos sentimentos e à autocensura.

ImagemA pessoa entra num estado de relaxamento e felicidade, podendo mesmo rir à toa ou chorar (ao que parece, mais rir do que chorar). Uma sensação parecida à de beber demais. Davy tinha o perigoso habito de testar em si mesmo os gases que estudava e, aspirando o gás, descobriu suas propriedades analgésicas. Não demorou muito para Davy convidar seus amigos e colegas de trabalho em sua casa em Bristol para usarem o “gás hilariante”. Em frente a uma bela paisagem no interior da Inglaterra Humphry Davy e seus amigos Lake Poets usavam o óxido nitroso para terem inspiração para escrever seus poemas românticos. Festas eram organizadas onde os convidados se deliciavam a inalar o famoso gás hilariante. Em seu livro “Researches, Chemical and Philosophical, chiefly concerning Nitrous Oxide and its Respiration”, publicado em 1800, por causa de suas propriedades analgésicas, Davy sugeriu que utilizassem como anestesia em cirurgias e operações médicas. Em 1844 o dentista de Connecticut, Horace Wells, usou o Óxido Nitroso para a extração de dentes, tornando o gás o primeiro anestésico químico.

Seu livro foi um sucesso no meio cientifico da época, aumentando sua fama. No dia 9 de março de 1801 Davy deixa Bristol e vai para Londres ocupando o cargo de Professor Assistente de Química da Royal Institution. Suas palestras pagas eram abertas ao público onde realizava uma série de demonstrações e experimentos. Explosões, mudanças de cor, precipitações eram a marca dos experimentos de Davy. Era uma divulgação da química como ciência para a sociedade britânica. O seu carisma curiosidade pelo espetacular fizeram dele um sucesso imediato, principalmente com as damas de Londres. Logo Davy era o químico mais famoso da Grã-Bretanha. Tornou-se Professor Titular em 1802, foi eleito um membro da Royal Society de Londres em 1803 e foi premiado com a medalha Copley em 1805.

A partir do inicio do século XIX, Davy interessou-se por eletricidade. Aplicando uma corrente elétrica em certas substâncias, ele conseguiu isolar elementos até então desconhecidos da ciência. Assim ele descobriu o Potássio e, utilizando a mesma técnica, tornou-se o primeiro a isolar vários elementos:

 

  • Sódio
  • Cálcio
  • Boro
  • Bário
  • Magnésio
  • Estrôncio

Além de ajudar a determinar o Cloro e o Iodo e realizar pesquisas com o Nitrogênio, Enxofre, Alumínio e Carbono. Mas, como ele mesmo dizia, sua maior descoberta foi uma pessoa: Michael Faraday.

Logo depois de ser nomeado Sir pelo Rei George III, Davy sofreu um acidente de laboratório, onde uma explosão do NCl3 cegou temporariamente, obrigando a procurar um ajudante. Há uns meses atrás tinha recebido um caderno de anotações de um rapaz pobre, que havia ganhado ingressos para assistir as palestras de Davy. Era Michael Faraday (1791-1867), que trabalhava como aprendiz de encadernação em uma livraria de Londres. Davy ficou surpreso de como um rapaz sem estudo poderia ter escrito aquilo e contratou o rapaz em 1813. Davy ainda não sabia, mas Faraday tornar-se-ia um revolucionário da ciência, um grande físico e químico que se sobrepôs ao mestre.

davy2Em 1818 foi agraciado com o título de Barão e nomeado Presidente da Royal Society em 1820. Em 1826 ganhou mais um prêmio, a Royal Medal pelo desenvolvimento da eletroquímica. Presidiu a Royal Society até 1827, renunciando o cargo devido a problemas de saúde, sendo substituído pelo colega Davies Gilbert. Mas anos de intoxicação química foram demais para Davy. Mudou-se para Roma para procurar tratamento e acabou falecendo em Genebra, na Suíça em 29 de Maio de 1829, aos cinquenta anos, para a comoção do mundo cientifico. Em sua homenagem, em 1877 foi criado a Medalha Davy pela Royal Society, para premiar uma descoberta recente excepcionalmente importante em qualquer ramo da química.

Sir Humphry Davy foi um grande propagador da ciência química. Apesar de nunca ser formado numa universidade, Davy mostrou que com seu trabalho poderia alcançar o alto escalão cientifico da época. Em uma época em que novos pensamentos e filosofias apontavam na Europa e no mundo (Romantismo, Revolução Industrial, Revolução Francesa e Guerras Napoleônicas) Davy representou esses ideais de transição, sendo inovador e original. Como bom romântico faleceu ainda jovem devido a sequelas de inalar diferentes gases durante sua vida.

Referências:

Livros

de FARIAS, R. F.; Para gostar de ler a história da química. Vol. 2. ed. Átomo. Campinas, SP. p. 41-43.

LEICESTER, H. M.; The Historical background of Chemistry. Dover Publications, Inc. New York, NY. p. 161-222

WEEKS, M. E.; LEICESTER, H. M.; Discovery of the Elements. ed. 7.  Journal of Chemical Education. Easton, Pa. 1968.

ASIMOV, I.; Cronologia das Ciências e das Descobertas. Civilização Brasileira S.A. Rio de Janeiro, RJ. p. 375-493. 1993.

KENDALL, J.; Young chemists an Great discoveries. Strangeways Press Limited, Printers, London. p. 1-88

IHDE, A. J.; The Development of Modern Chemistry. Dover Publications, Inc. New York, NY. p. 161-222.

PARIS, J. A.; The life of Sir Humphry Davy, bart., LL.D.. vol. I. Londres. H. Colburn an R. Bentley. 1831. p-1-547.

 

Documentários

Chemistry: a Volatile History. Episode I: Discovering the Elements. Apresentador: Professor Jim Al-Khalili. Diretor: Jon Stephens. Documentário. 58’42’’. BBC.

Shock and Awe: The Story of Electricity. Episode I: Spark. Apresentador: Professor Jim Al-Khalili. Diretor: Tim Usborne. Documentário. 59’20’’. BBC.

The Story of Science: Power, Proof and Passion. Episode II: What is the World Made of ?. Apresentador: Michael Mosley. Diretor: Nat Sharman. Documentário. 58’47’’. BBC.

Epigenética

Você já ouviu falar em Epigenética?

epigenética1

Laura Vilar

 

Epigenética é uma área da biologia que estuda todas as mudanças reversíveis e herdáveis nas funções dos genes do DNA que não modificam a sequência primária de nucleotídeos (adenina, guanina, citosina e timina). epigenética2Inclui o estudo de como os padrões de expressão são passados para os descendentes e como a influência do ambiente pode alterar a maneira como os genes serão expressos.  A pesquisa na área da epigenética alcança implicações importantes na biologia, como o entendimento sobre células tronco, câncer e envelhecimento.

Os mecanismos epigenéticos envolvem modificações químicas do próprio DNA, ou modificações das proteínas que estão associadas a ele, mas sem alterar a sequência nucleotídica do DNA correspondente. Como exemplo de mecanismo, tem-se a metilação, que ocorre durante o empacotamentodo DNA, (parte do DNA é desempacotado para a produção de
determinadas proteínas). A metilação é o processo de adição de um grupo metila (-CH3) tanto na molécula de DNA como nas histonas (proteínas responsáveis pelo empacotamento) e está relacionado com o silenciamento de diversos genes que não precisam ser expressos.

Se o padrão de metilação do organismo for alterado por agente externos, como exemplo, agentes químicos, um novo padepigenética3rão de metilação do DNA será formado, podendo implicar consequências significativas na saúde do organismo, já que genes antes silenciados poderão ser ativados. Isso indica que o organismo pode ajustar a expressão genética de acordo com as condições do meio em que vivesem alterar o genoma. Além disso, o novo padrão epigenético formado poderá ser passado para as gerações futuras. Como exemplo, estudos revelam que filhos e netos de famílias que tiveram graves escassez de alimento, possuem maiores riscos de doenças cardiovasculares e diabetes.

epigenética4Outro exemplo envolvendo a epigenética é o caso dos gêmeos idênticos. Uma série de estudos mostram que os gêmeos têm diferentes níveis de sintomas relacionados a depressão e ansiedade, e também apresentam diferenças em seu comportamento   e fisiologia, indicando que as diferentes condições ambientais que foram submetidos são responsáveis pela expressão de fenótipos diferenciados para um mesmo genótipo.

As diferenças epigenéticas entre os organismos que vivem sob diferentes condições ambientais, também levam a diferentes susceptibilidades a doenças como o câncer. O câncer desenvolve-se quando células tornam-se anormais e começam a crescer sem controle.  Pode ser originado de mutações na sequência de DNA das células ou ter um epigenoma.  Neste último caso, alguns genes são despertados e outros são silenciados frequentemente nas mesmas células.

epigenética5O estudo da epgenética traz contribuições relevantes para a medicina, como exemplo, atualmente pesquisadores buscam por drogas que podem mudar o perfil epigenético das células do câncer. Outro ponto é a identificação das diferenças nos padrões de metilação, isto  irá melhorar a compreensão sobre o genoma e irá auxiliar no diagnóstico de doenças. Além do mais, surge a possibilidade de identificar biomarcadores que permitirão a identificação da população mais vulnerável a desenvolver doenças como câncer, infarto, pressão alta ou transtornos mentais.

O estudo da epigenética vai possibilitar um avanço na compreensão da relação ambiente e genoma, uma vez que vai mostrar que o ambiente social no qual uma pessoa está inserida é capaz de modular o funcionamento dos seus genes, influenciando no padrão de expressão deles.  Portanto, irá ajudar a combater o determinismo genético, aquela ideia que acredita que os organismos são inteiramente determinados por seus genomas. Por exemplo: se você nasce com genes saudáveis você será sempre saudável, desconsiderando o contexto social. Isso pode levar as pessoas a tomarem decisões mais conscientes, avaliando as consequências de suas atitudes para o futuro uma vez que mostra que temos controle enquanto pais, enquanto formuladores de políticas públicas.

 

Referências:

http://revistacarbono.com/artigos/03-epigenetica-e-memoria-celular-marcelofantappie/

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=30541

http://www.biomedicinapadrao.com/2011/10/epigenetica.html

http://agencia.fapesp.br/16965

Alimentos funcionais

Jéssica Coco

 

alimen1 Com o surgimento no Japão nos anos 80, por meio de um programa de governo que tinha como objetivo desenvolver alimentos saudáveis para uma população que envelhecia e apresentava uma grande expectativa de vida, os funcionais japoneses, conhecidos como FOSHU “Foods for Specified Health Use”, sustentam um selo de aprovação no Ministério da Saúde e Bem Estar.

A lei japonesa foi elaborada em junho de 1997, mas não é a única atualmente. Hoje, vários países contam com uma legislação específica. No Brasil, as regras foram instituídas a partir de 1999.

A preocupação em consumir alimentos que forneciam benefícios à saúde e que ainda possuíam valores nutritivos que podiam reduzir os riscos de doença é histórica. Hipócrates há cerca de 2500 anos já pregava isso em uma de suas célebres frases que dizia: “faça do alimento o seu medicamento”. No entanto, na década de 90, é que de fato houve um interesse significativo por esse assunto e o termo “alimento funcional” foi adotado.

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Segurança Alimentar), alimento funcional é definido como aquele “alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando  consumido, como parte de uma dieta habitual, produz efeitos benéficos a saúde”. Por exemplo: soja (reduz o colesterol ruim e diminui o efeito da menopausa), alho (diminui a pressão arterial), tomate e goiaba (diminui o risco de câncer de próstata).

Esses alimentos podem ser classificados de duas formas: quanto à fonte, que pode ser de origem vegetal ou animal, ou quanto aos alimen2benefícios que oferecem, atuando em seis áreas do organismo, as quais são, o sistema gastrointestinal, cardiovascular; no crescimento, desenvolvimento e diferenciação celular; no comportamento das funções fisiológicas e como antioxidantes.

Por meio de pesquisas foi possível comprovar que alguns tipos de câncer estão diretamente correlacionados com maus hábitos alimentares. Um exemplo disso é o risco do desenvolvimento do câncer de mama, o qual está entre o de maior incidência entre o sexo feminino.

O mesmo pode ser reduzido a partir da ingestão contínua de alguns alimentos do tipo funcionais. Segundo a nutricionista, Flávia Sguario, em entrevista pela revista Hospitais Brasil, afirma que mulheres que consomem de 25 a 30 gramas de fibras, diariamente, têm 30% a menos de chances de evoluir a doença e que, além disso, as fibras melhoram o funcionamento intestinal, reduzem os riscos de doenças, a taxa de açúcar no sangue, colesterol e triglicerídeos.

A importância para a saúde do uso destes alimentos verifica-se no Brasil pelo fato de que os brasileiros enfrentam um avanço das doenças crônicas degenerativas por conta de um estilo de vida desequilibrado que envolve maus hábitos alimentares e sedentarismo. Sendo assim, o consumo regular desses alimentos pode ser uma alternativa para conter o avanço dessas doenças e conscientizar a população que a alimentação tem um papel fundamental sobre a saúde.

Referências

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/220_alimentos_funcionais.html   http://www.anutricionista.com/alimentos-funcionaishistorico-e-beneficios.html

http://www.fmv.utl.pt/spcv/PDF/pdf3_2002/componentes.pdf

http://www.revistahospitaisbrasil.com.br/noticias/alimentos-funcionais-podem-minimizar-riscos-do-cancer-de-mama/